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Partiu Orum! Um produto educacional com perspectiva decolonial

Autora: Daniele Rodrigues Moreira

O presente artigo é um recorte da pesquisa “Novas Contações de Mundo: o uso de narrativas míticas iorubás no Ensino Fundamental”, apresentada ao Colégio Pedro II como parte das exigências para o título de Mestre em Prática de Educação. A pesquisa consistiu em mobilizar um grupo de professores da Escola Municipal Rio Grande do Sul (EMRGS), onde a pesquisadora é docente desde 2012. Nesta intervenção, os professores foram convidados a pensar práticas com uma perspectiva decolonial, a partir da inserção de narrativas míticas da cultura iorubá em suas aulas. Essa proposta teve como fruto a criação de um Produto Educacional (PE), para ser utilizado por professores em suas aulas. É este produto que apresentarei aqui. Por isso, convido você leitor a embarcar nessa leitura, que nada mais é do que o fruto de muitas trocas de ideias, e tem por objetivo fomentar práticas para uma educação comprometida com as relações étnico-raciais. “Partiu Orum!” é um Produto Educacional com característica de gamificação, e com sugestões de planos de aulas, que podem ser utilizados por qualquer docente, que tenha interesse em inserir esta forma outra de ver e narrar o mundo.

Palavras-chave: Orixás. Narrativas. Relações étnico-raciais. Decolonialidade.

Tabuleiro do jogo

 

Introdução

Na cultura iorubá, o orum corresponde ao espaço espiritual, onde vivem os orixás, já o aiê ao mundo dos mortais. O Produto Educacional (PE), Partiu Orum! consiste em uma abordagem gamificada (Ausani; Alves, 2020), a partir de características de um jogo de tabuleiro, que tem por objetivo a abordagem de narrativas míticas da cultura iorubá, envolvendo diferentes componentes curriculares do Ensino Fundamental II.

Este PE, vem acompanhado de um caderno pedagógico com experiências docentes, como proposta para o uso de outros professores, de diferentes anos de escolaridade do Ensino Fundamental II, e servirá como auxílio, e/ou premissa para a atividade com o jogo. O PE conta com uma série de cartas e, a cada rodada, pode ser sorteada uma carta secreta com características do elemento (orixá) a ser descoberto. Vence o jogo quem acertar mais rápido e com o menor número de dicas, pois avançará mais rápido no tabuleiro.

Nosso produto é um jogo de demonstração de conhecimentos sobre a cultura iorubá, que no Brasil se faz presente a partir da escravização e da chegada desse grupo étnico, também conhecido como nagôs, no Brasil. Porém, essa presença africana não fica restrita à mera condição de escravizados. Se fisicamente esses corpos não morreram na travessia, houve a busca por matar aquilo que os constituíam humanamente como forma de impedir que essa consciência do ser se alastrasse em terras coloniais. Acontece que, a mesma subjetividade atacada pelo processo de escravização, revelou-se potencial de resistência.

Partiu Orum! é um produto educacional com perspectiva decolonial, por pretender trazer a importância da temática étnico-racial para a sala de aula, a partir da ressignificação da população negra e da religiosidade de matriz africana nas histórias contadas sobre a formação de nossa sociedade. Conforme nos apontam Walsh, Oliveira e Candau (2018), diante dessa perspectiva:

É um trabalho de politização da ação pedagógica. Esta perspectiva é pensada a partir da ideia de uma práxis política contraposta a geopolítica hegemônica monocultural e mono-racional, pois trata-se de visibilizar, enfrentar e transformar as estruturas e instituições que têm como horizonte de suas práticas e relações sociais a lógica epistêmica ocidental, a racialização do mundo e a manutenção da colonialidade (Walsh; Oliveira; Candau, 2018, p. 5).

Assim, esta prática coopera para conduzir os discentes às reflexões acerca da resistência e da existência da população afrodescendente no Brasil. E, ainda, estabelece em sala um intercâmbio de saberes entre aqueles alunos que se sentem representados pela temática religiosa, e os que constituem seus saberes na alteridade, como forma de assim produzirem, juntos, saberes outros, partindo de diferentes formas de compreender o mundo.

Decolonizar, significaria então, no campo da educação, uma práxis baseada numa insurgência educativa propositiva – portanto não somente denunciativa – por isso o termo “DE” e não “DES” – onde o termo insurgir representa a criação e a construção de novas condições sociais, políticas e culturais e de pensamento. […] DEcolonizar na educação é construir outras pedagogias além da hegemônica. DEScolonizar é apenas denunciar as amarras coloniais e não constituir outras formas de pensar e produzir conhecimento (Oliveira, 2016, p.4).

Deste modo, esse material oportuniza reflexões acerca de uma história que omite e invalida saberes e valores que nos constituem enquanto sociedade, para superar a perspectiva da colonialidade, que silencia, nega e muitas vezes transforma atores sociais em alvo de violências conforme sua prática religiosa. Através dele, esperamos dinamizar para decolonizar o processo de ensino-aprendizagem, diante de uma experiência desprendida de uma única visão sobre o mundo e sobre uma única forma de ensinar. É destacada a gamificação no processo educacional como caminho para, além de despertar possivelmente o interesse dos alunos, prestar também um serviço à decolonização de práticas de ensino engessadas em modelos com conteúdos hegemônicos.

 

Partiu Orum!

Capa do caderno pedagógico

A colonialidade do poder (Quijano, 2005) como estruturante do racismo religioso, reproduz e reforça o discurso do colonizador de inferiorização de outras culturas que não a sua. No caso brasileiro, invalida a ancestralidade dos povos nativos e de origem africana. Desta forma, mesmo após o esfacelamento das instituições coloniais, o discurso da colonialidade serve para manutenção da hegemonia da cultura europeia, suas crenças e suas formas de organização, como se as demais não tivessem importância.

A incorporação de tão diversas e heterogêneas histórias culturais a um único mundo dominado pela Europa, significou para esse mundo uma configuração cultural, intelectual, em suma intersubjetiva, equivalente à articulação de todas as formas de controle do trabalho em torno do capital, para estabelecer o capitalismo mundial. Com efeito, todas as experiências, histórias, recursos e produtos culturais terminaram também articulados numa só ordem cultural global em torno da hegemonia europeia ou ocidental. Em outras palavras, como parte do novo padrão de poder mundial, a Europa também concentrou sob sua hegemonia o controle de todas as formas de controle da subjetividade, da cultura, e em especial do conhecimento, da produção do conhecimento (Quijano, 2005, p. 121).

Logo, esse poder econômico experimentado pela Europa, neste momento, é acompanhado da imposição de uma superioridade também subjetiva, que através do racismo religioso revela uma das mais cruéis faces da desumanização dos povos que um dia foram escravizados. Como afirmam Carybé e Verger (2005), a presença das religiões africanas no novo mundo é uma consequência imprevista do tráfico de escravizados, e é fato que, ao longo dos anos, a colonialidade tem prezado pelo silenciamento destas representações diversas.

Portanto, é preciso balançar as estruturas desse histórico silenciamento, abordando de forma positiva aspectos das culturas, inclusive as religiosidades afro-brasileiras, no contexto escolar. Ainda sobre esta questão, Walsh, Candau e Oliveira (2018), destacam como decolonial esta busca por “desafiar e derrubar as estruturas sociais, políticas e epistêmicas da colonialidade – estruturas até agora permanentes – que mantêm padrões de poder enraizados na racialização, no conhecimento eurocêntrico e na inferiorização de alguns seres como menos humanos” (Walsh; Oliveira; Candau, 2018, p. 24).

Partiu, Orum! se apresenta como essa possibilidade de comunicação entre aiê e orum, no estabelecimento de um cruzo possível, inspirado na itã[1] do orixá Exu, que traz em todas as suas dimensões a possibilidade da comunicação em contraposição à lógica colonial de separação de mundos. A abordagem histórica/cultural da mitologia iorubá nessa proposição didática, traz as narrativas míticas para dialogarem com conteúdos dos componentes curriculares, de maneira a oferecer outra perspectiva de um assunto que, em geral, é tratado em sala a partir de uma visão única de mundo, padronizada pela colonialidade do poder a que nos referimos acima.

Para que a aproximação dos discentes com a mitologia iorubá acontecesse de forma didática, mas também de uma maneira lúdica, a professora-pesquisadora, após orientar os colegas docentes na elaboração dos planos de aulas afrorrefenciados, iniciou a elaboração do jogo. Este foi construído relacionado aos conteúdos destes planos e das experiências na aplicação dos mesmos. Diferentes narrativas sobre os orixás foram trabalhadas, pelos diferentes componentes curriculares, como exemplo: Matemática trouxe Exu e a encruzilhada para seus cálculos; Ciências, Oxóssi para falar sobre o desmatamento; História, as iabás para pensar a Revolução Industrial e a poluição das águas.

Pensou-se que  Partiu Orum! deveria ser um jogo ao estilo do Perfil, da Grown.  Nesse modelo, que é um jogo de conhecimento e também sorte, vence quem acertar com o menor número de dicas, pois envolve cartas com pistas de um perfil/personagem secreto, no caso do nosso jogo, orixás. Esta é uma possibilidade lúdica de demonstrar os conhecimentos adquiridos em relação à cultura iorubá e, ainda, um produto de fácil aplicabilidade que pode ser utilizado por docentes de diferentes disciplinas, com discentes de diferentes anos do Ensino Fundamental II. O mesmo pode ser aprimorado com acréscimo de cartas, até mesmo pelos alunos, que podem buscar conhecimento e ampliar as peças do jogo trazendo dinamismo e complexidade para o recurso pedagógico, adicionando cartas com demais orixás ou informações a respeito destes. Um ponto a ser destacado é que a simples inserção da prática gamificada não é um determinante para o engajamento dos alunos, visto que, os resultados dependem de uma série de elementos. Portanto, apresenta-se a gamificação como uma possibilidade e não como um determinante para o sucesso educativo.

Reconhecemos que o êxito do projeto está relacionado a todas as etapas do seu processo, como as metodologias, a elaboração, aplicação, além das características do grupo e objetivos específicos em cada contexto. O produto traz uma abordagem acerca dos mitos que, para além de uma explicação simbólica do mundo, mantém funções pedagógicas destinadas a prestar ensinamentos de conduta e convivência, demarcando raízes culturais, pois ocupa papel permanente na construção do imaginário, dialogando com os componentes curriculares. A demonstração de conhecimentos adquiridos sobre a ancestralidade afro-brasileira se faz possível à medida que se desenrola o caminhar no tabuleiro do jogo.

A partir do produto Partiu Orum! objetivamos uma perspectiva decolonial para as práticas docentes, visto que as narrativas míticas iorubás estão permeadas não só da religiosidade africana, mas também por outras características culturais, econômicas, políticas e sociais que se revelam através dos itãs dos orixás, presentes também na construção da identidade brasileira. O conhecimento destes mitos é significativo no sentido de uma formação que contemple diferentes narrativas, logo, diversas formas de ver e contar o mundo, o que a pesquisa pretendeu ao destacar novas contações de mundo.

Os valores civilizatórios (Trindade, 2005) presentes nas narrativas dos orixás estão também na relação dialógica dos jogos. A oralidade na troca de vivências, e a demonstração sobre o conteúdo aprendido, que deverá ser demonstrado na atividade, ou mesmo o dinamismo como possibilidade de movimento, dentre outras características, trazem consigo uma experiência decolonial em sua dinâmica.  Valores como: circularidade, oralidade, religiosidade, corporeidade, energia vital, musicalidade, ludicidade, memória, ancestralidade e comunitarismo, foram compilados por Azoilda Trindade, idealizadora do projeto “A Cor da Cultura”, do MEC (Ministério da Educação e Cultura), para fomentar a produção de materiais a serem utilizados na escola, atendendo ao dispositivo legal da Lei Nº 10.639/2003.  Ao serem utilizados nos estudos, esses valores objetivam destacar que, nas perspectivas civilizatórias afrodescendentes, somos, existimos. Ideia que rompe com a colonialidade nas práticas pedagógicas.

Nossa abordagem sobre estes valores é no sentido de destacar características culturais que atravessaram o Atlântico, se estabeleceram e se recriaram enquanto resistência de um grupo silenciado historicamente, reconhecendo seus saberes e concepções de mundo que constituíram nossa sociedade, mas foram invisibilizadas diante da colonialidade reproduzida no chão de nossas escolas. Nesses espaços, defendemos que decolonizar tem a ver com os conteúdos e com a forma de ensiná-los. Assim, a utilização do jogo Partiu, Orum!, em conjunto com o caderno pedagógico, viabiliza um intercâmbio de saberes, trocas de conhecimentos entre os jogadores permitindo questionamentos acerca das identidades e alteridades.

O ato de dinamizar o processo de ensino-aprendizagem é decolonial. Pois traz propostas outras de ensino-aprendizagem em contraponto às práticas que seguem os modelos hegemônicos, que fizeram parte da formação de muitos dos docentes que se encontram em sala de aula atualmente. Portanto, esses mecanismos com características de jogos, em conjunto com narrativas outras, que não as da colonialidade, oportunizam que saberes sejam constituídos fora dos moldes coloniais, colocando em destaque, por meio de práticas de ensino não convencionais, referenciais de culturas silenciadas historicamente.

Partiu Orum! traz questões como: pertencimento e representatividade; conhecimento na alteridade; e uma iminência em tornar possível o desmistificar e desestereotipar a religiosidade afro-brasileira, combatendo o racismo religioso, ao colocar a afro-religiosidade em destaque. É sobre como o outro o conhece, buscando conhecer o outro e suas marcas identitárias para vê-las também enquanto saberes constituintes de conhecimento.

Em suas novas narrativas sobre o mundo, o PE foi desenvolvido na busca por atender demandas do atual cenário da educação básica brasileira, trazendo novas informações e novas motivações. Informações no sentido de apresentar os conteúdos a partir de outras abordagens e perspectivas, com novas motivações, ao propor novas práticas de ensino/aprendizagem para um fazer pedagógico decolonial.

Cooperativismo/ Comunitarismo: A Cooperação e a produção do Produto Educacional

Se existe um afro-saber que se destacou, e precisa ser referenciado em todo esse projeto, foi a cooperação. Todos os outros valores civilizatórios (Trindade, 2005) se fizeram presentes de alguma maneira, mas a cooperação se destacou em todo processo. Por conta deste valor chegamos à conclusão de que essa proposta, lançou sementes que ficaram, deixando a expectativa de colher os frutos desse trabalho tecido com paciência e afeição. O uso das narrativas iorubás se destacou como uma possibilidade para a Educação das Relações Étnico-Raciais que se contrapõe à colonialidade. É uma possibilidade que nos faz vislumbrar e pensar em caminhos outros que podemos trilhar para uma educação que movimente as estruturas da colonialidade que nos legou o racismo, neste caso o racismo religioso.

Pensar o mundo a partir dos itãs dos orixás, é pensar em novas possibilidades. Por isso, destacamos nosso Produto Educacional que foi sonhado e realizado em muitas etapas através da cooperação. Um produto que, de fato, foi feito por muitas mãos, cabeças e corações, e que muito nos ensinou. O produto propõe uma caminhada guiada pelo itã de Exu, possibilitando outra visão sobre o mundo dos orixás. Em todo o processo revisitamos saberes e, muitas vezes as alunas foram condicionadas a colocar além dos conhecimentos adquiridos na preparação das aulas e/ou consultar colegas que já dominavam esses conhecimentos, uma possibilidade de ampliar saberes e de aplicar o que aprenderam.

A princípio, o produto seria desenvolvido apenas em uma parceria entre as áreas da História e da Educação Física (Professora Flávia Torres), onde os conhecimentos acerca das narrativas iorubás se articularam com regras estabelecidas pelo jogo Partiu, Orum!. Mas, decidimos por um tabuleiro que destacasse o valor civilizatório do axé, e toda a mobilização presente ao longo do projeto. Para isto, contamos com auxílio de algumas alunas na ilustração do tabuleiro do jogo, o que fez do processo de construção do PE, algo mais dinâmico e rico em aprendizado para as docentes e discentes envolvidas.

Temos, assim, um jogo todo produzido na escola, elaborado com a participação de algumas alunas com habilidades artísticas para desenho, e que já haviam participado, em 2023 (período em que iniciamos a pesquisa), de pelo menos uma das aulas do projeto de pesquisa. Uma experiência com ilustração já havia sido realizada,na aula de História, sobre a Revolução Industrial. Após a aula expositiva e leitura de uma narrativa sobre os orixás Obá e Oxum, os discentes foram orientados a pesquisarem sobre outros orixás relacionados às águas, as iabás (orixás femininos) e também representá-las por meio de ilustrações autorais.

A princípio, pensou-se em um tabuleiro com ilustração dos orixás do panteão iorubá. Como nesta primeira experiência cada aluna trouxe sua percepção acerca de cada iabá, os traços foram bastante variados.  Com o objetivo de não mobilizar muita gente, pensou-se em uma única aluna que pudesse fazer a ilustração de todos os orixás com um traço padronizado. Mas, Partiu Orum! tem sido desde o início uma tarefa que agrega e, ao observar os movimentos, o grupo envolvido na primeira experiência aproximou-se com desejo de participar. Concluímos que a caminhada ao Orum deveria ser uma caminhada experienciada, nos paradigmas do próprio Orum. Por isso, seria necessário caminhar pelos caminhos descritos nos itãs dos orixás. Então, nosso jogo de tabuleiro caminha por onde esses orixás habitam. Exu nas encruzilhadas, Iemanjá no mar, Oxum nas cachoeiras, Oxóssi na mata e assim por diante. Foi, de fato, uma tarefa que demandou tempo na organização e execução.

Quanto à execução, a Professora Flávia Torres trouxe uma questão simbólica crucial para nosso jogo. No ano anterior, ao iniciarmos as primeiras abordagens, um aluno nos trouxe o conceito de “quizila”, até então não pensado por nós. De acordo com adeptos de religiões de matriz africana, entende-se por quizila as formas de reação negativa ao axé (energia vital) que atinge as pessoas física, mental e espiritualmente, gerando diversos transtornos. A quizila do orixá vem quando comemos ou fazemos algo que não devemos, e são ensinadas ao longo da caminhada da iniciação que os devotos fazem. As quizilas dos orixás mais comuns são comidas, temperos, folhas para banhos ou alimentação, bebidas, cores de roupas.

No caso específico da construção do jogo, essa quizila tem a ver com a proximidade de alguns orixás, como, por exemplo, Obá e Oxum que disputam o amor de Xangô. E foi com a preocupação de não incorrer em um esvaziamento simbólico, que convidamos duas outras alunas, praticantes de religiões de matriz africana, para cooperarem com a produção do PE. Essas alunas auxiliaram na disposição dos espaços do tabuleiro, a fim de evitar incoerências simbólicas. Desta forma, houve cooperação entre saberes, enriquecendo a execução prática do PE.  As imagens anexadas mostram algumas etapas do processo de criação do Produto Educacional.

Considerações Finais

O produto desenvolvido é um material produzido por docentes e direcionado para o uso com discentes do Ensino Fundamental II, partindo da hipótese de que atividades com jogos possibilitam uma prática lúdica, capaz de despertar interesse para diferentes componentes e conteúdos curriculares da educação básica. Neste caso específico, e por suas características afrorreferenciadas, o produto está em consonância com uma pedagogia decolonial (Walsh; Oliveira; Candau, 2018) na medida que traz referências da religiosidade afro-brasileira para dialogar com temáticas tradicionais do currículo escolar.

Além de atrairmos a atenção de nossos alunos para a aprendizagem destes conteúdos, possibilitamos debates sobre a questão do racismo religioso, bem como chamamos atenção para os saberes presentes nas narrativas dos itãs dos orixás a partir da forma como estas explicam o mundo, fazendo presentes a cultura brasileira. Partiu, Orum! é lúdico, pedagógico e decolonial.

[1] Relatos míticos, lendas da cultura iorubá.

Daniele Rodrigues Moreira

Mestre em Práticas de Educação Básica pelo Colégio Pedro II. Possui graduação em História pela Universidade Gama Filho (2007). Pós-Graduação em Teologia pela PUC-Rio (2012). Pós-Graduação em Ensino de História e Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense (2015). Atualmente é professora na E/CRE(03.13.036) ESCOLA MUNICIPAL RIO GRANDE DO SUL. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Ensino de História/ Educação para as Relações Étnico Raciais/ Ens. Fundamental II, atuando principalmente nos seguintes temas: identidade e diversidade, educação e decolonialidade; prática de ensino para educação étnico-racial e práticas docentes interdisciplinares.

Referências

AUSANI, Paulo César; ALVES, Marcos Alexandre. Gamificação e ensino: o jogo dialógico como estratégia didática ativa e inovadora. Research, Society and Development, v. 9, n. 6, p. e139962736-e139962736, 2020.

CARYBÉ; VERGER, Pierre. Orixás. Edizioni Associate, 2005.

OLIVEIRA, L. F, de. O que é uma educação de colonial? Revista Nova América.  Buenos Aires, 149, p. 35-39. 2016.

QUIJANO, Aníbal. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas, Buenos Aires, p. 117-142, 2005.

RUFINO, Luiz. Pedagogia das encruzilhadas: Exu como Educação. Revista Exitus, v. 9, n. 4, p. 262-289, 2019.

TRINDADE, Azoilda Loretto da. Valores civilizatórios afro-brasileiros na educação infantil. Valores afro-brasileiros na educação: boletim, Brasília, DF, n. 22, p. 30-36, nov. 2005.

WALSH, C.; OLIVEIRA, L. F. de; CANDAU, V. M. Colonialidade e pedagogia decolonial: para pensar uma educação outra. Arquivos Analíticos De Políticas Educativas, Tempe, v. 26, n. 83, p. 1-16, 23 jul. 2018. Disponível em: https://doi.org/10.14507/epaa.26.3874 

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