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“De passinho em passinho, eles chegam lá”: relato de uma experiência com ritmo e sonho na roda de leitura*

Autora: Evelyn Beatriz Lucena Machado

O presente texto tem como objetivo partilhar com leitoras e leitores as experiências de ensinos mais profundas que me ocorreu no segundo semestre do ano de 2023. Nesse ano, o meu sonho de retornar para a Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro como professora se realizou. E, foi na Escola Municipal Maria Clara Machado, localizada na comunidade da Tijuquinha, no bairro do Itanhangá, que vivi uma linda história que misturou ensino, literatura, educação para as relações étnico-raciais e muitos passinhos.

Na referida unidade escolar, tive a oportunidade de lecionar o componente curricular Roda de Leitura em turmas de 4º ano do Ensino Fundamental. Ao entrar nas salas, a beleza do livro infantil “De passinho em passinho”, do escritor carioca Otávio Júnior, me encantou e estimulou a criar uma atividade, objetivando provocar o desejo pela leitura, possibilitar a vivência de emoções através da dança e estimular o desejo de sonhar a partir da produção de textos. Após uma leitura mediada, a turma foi convidada a bater palmas que embalaram as apresentações de passinho. Comentários como: “tia, eu já dancei o passinho lá na minha rua” eram frequentes.

Após momentos de dança, e até alguns duelos, a turma foi convidada a observar atentamente as ilustrações presentes no livro. Havia muitos corpos negros sendo protagonizados de forma positiva, o que ressalta a importância do encantamento produzido por uma literatura engajada com a valorização da diversidade. Em seguida, embarcamos na biografia do autor Otávio Júnior que, assim como eu, nasceu em uma favela no Complexo da Penha e foi aluno de escola pública. A turma se surpreendeu ao saber que o primeiro livro da vida do escritor foi encontrado em um lixo da sua favela, e que hoje ele é um grande profissional, escritor de suas narrativas.

Estimuladas pela frase “De passinho em passinho, eles chegam lá… E o céu não é o limite”, as turmas foram convidadas a escrever uma carta para Otávio Júnior contando sobre seus sonhos e sentimentos após conhecerem uma história de vida tão inspiradora. Escritas cheias de esperança foram produzidas e, como disse o compositor Gonzaguinha, “eu fico com a pureza da resposta das crianças”. É, a vida é bonita.

Palavras-chave: Roda de leitura. Literatura. Passinho.

(*) Resumos do Seminário de Boas Práticas em Educação Para as Relações Étnico-Raciais.

Evelyn Beatriz Lucena Machado

Formada em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mestra em Ensino de História e doutoranda em Educação pela mesma universidade. Ex-aluna da rede municipal de ensino e atualmente professora de ensino fundamental na 7ª CRE. Possui experiência na pesquisa sobre história da escravidão no século XIX, ensino de História e antirracismo.

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