Autora: Kelly Xavier Madaleny Florenço
As práticas apresentadas durante a IV Jornada da GERER ocorreram em dois contextos temporais distintos. Em parceria com a professora Carla Barros, no ano de 2022, no GET Dalva Larazoni (9ª CRE), adotamos a leitura da biografia da escritora Conceição Evaristo, além de realizarmos pesquisas sobre sua vida e obra. A partir dessa leitura, exploramos temas como as adversidades enfrentadas por Evaristo e sua família, sua superação, bem como aspectos como os tipos de moradia e as diversas regiões do Brasil. Adicionalmente, analisamos a situação da população negra na sociedade brasileira, e investigamos fatos históricos relevantes para uma compreensão social mais ampla.
A segunda colaboração ocorreu em 2023, e continuou em 2024 no GET Dulce Araújo (9ª CRE), com o professor de Artes Cênicas, Ricardo Ferreira. Partimos da obra “Oguntè, a jovem guerreira do reino de Olokum”(Madaleny, 2024), para explorar a mitologia africana, um tema sensível no contexto do cumprimento das especificidades da Lei 11.645/08. A partir dessa leitura, discutimos a religiosidade do povo negro como componente integral de sua cultura. Ampliamos também as discussões sobre racismo, racismo religioso, e promovemos o respeito e a compreensão em relação aos personagens mitológicos do panteão africano. As práticas descritas não se configuram como projetos isolados, mas sim como uma rotina em sala de aula, onde os estudantes têm acesso a uma variedade de literaturas focadas na Educação para as Relações Raciais.
O principal objetivo dessas atividades é combater o racismo presente na sociedade brasileira. Nas unidades escolares atendidas, observamos que as crianças naturalmente discutem os conhecimentos adquiridos durante as aulas, refletindo uma liberdade e confiança que se estende às suas vivências familiares das culturas africanas. Ao integrarmos as culturas afro-brasileiras e indígenas ao currículo, conforme preconiza a Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº 9.394/1996), essas temáticas se tornam parte integrante do cotidiano das crianças, contribuindo para a desconstrução de preconceitos enraizados. O resultado da introdução dessas epistemes negras é a elevação da autoestima dos estudantes, além de promover o respeito mútuo e contribuir para melhor desempenho nas atividades de leitura e escrita.
Algumas crianças, pertencentes a religiões de matriz africana, sentiram-se mais à vontade para compartilhar suas experiências nos terreiros, um comportamento incomum, muitas vezes marcado por medo ou vergonha. As atividades alinhadas com a Lei nº 11.645/2008 são implementadas ao longo do ano letivo de maneira natural, integrando-se ao currículo escolar. As atividades colaborativas mencionadas, resultaram em peças teatrais que ampliaram o conhecimento para toda a escola. As peças foram desenvolvidas a partir das leituras realizadas em sala de aula. A prática comum de eleger um livro paradidático para iniciar uma temática prevista no currículo foi adotada, permitindo que os mesmos livros explorados nas aulas fossem utilizados nas aulas de Artes Cênicas.
As atividades colaborativas entre docentes estimularam o interesse dos discentes pela literatura, elevou a autoestima dos estudantes e desenvolveu habilidades de leitura e escrita, enriquecendo o repertório literário e cultural das crianças. Esse enfoque promove um ambiente escolar inclusivo, oferecendo referenciais positivos para a construção da identidade e subjetividade das crianças. O “cantinho da leitura” foi estruturado para proporcionar acesso a uma ampla gama de temas sobre as culturas abordadas, incluindo obras como as de Conceição Evaristo, Ubuntu, Madiba, De passinho em passinho, Da minha janela, Os tesouros de Monifa, Carolina Maria de Jesus, História preta das coisas: 50 invenções científico-tecnológicas de pessoas negras, Como Surgiu: Mitos Indígenas Brasileiros, entre outros disponíveis na estante. Em resumo, a integração da Lei nº 11.645/2008 com a literatura afro-brasileira e as artes cênicas não apenas atende às exigências educacionais, mas também promove um ambiente educacional enriquecedor e inclusivo, preparando os estudantes para uma sociedade mais justa e igualitária.
Palavras-Chave: Lei 11.645/08. Literatura afro-brasileira. Artes cênicas.
(*) Resumos do Seminário de Boas Práticas em Educação Para as Relações Étnico-Raciais.








Kelly Xavier Madaleny Florenço
Doutora em psicologia pelo PPGPSI - UFRRJ, linha de pesquisa: Processos Psicossociais Coletivos; Mestra em Educação pelo PPGEduc - UFRRJ; Especialista em Educação para as Relações Étnico-raciais pelo PNESB - UFF; Licenciatura Plena em Pedagogia (UFRRJ); professora efetiva SME - RJ, atuando na Sala de Leitura no Ensino Fundamental I, na E/CRE(09.18.100) Escola Municipal Dulce Araújo "Tia Dulce". Escritora e pesquisadora na área da Educação Antirracista. Conhecimento aprofundado sobre teorias e práticas de educação antirracista.
Referências
MADALENY, Kelly Xavier. Ògúntè: A jovem Guerreira do reino de Olokum. Ilustrador: Caio Costa Rodrigues. Quissamã, RJ: África e Africanidades, 2024.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF: Presidência da República, 1996.
BRASIL. Lei nº 11.645, de 10 março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Brasília, DF: Presidência da República, 2008.